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Metáfora e Singularidade

  • Foto do escritor: Argus Setembrino
    Argus Setembrino
  • 18 de mai. de 2020
  • 2 min de leitura

Esse é um daqueles pequenos textos que a gente começa querendo dizer alguma coisa, mas não sabe bem como vai terminar. É um daqueles que a gente acaba enquanto escreve e/ou termina pelas metades. Começo querendo dizer algo sobre as metáforas, ou mais precisamente contra o “reino das metáforas”.


Outro dia lembrei de uma metáfora para explicar o que seria “campo de coerência” na Análise Institucional. Diz que as teorias são como uma rede que lançamos na realidade e o que captamos é o que a teoria dá a perceber. Os conceitos, por sua vez, são como os nós que compõem esta rede. Tudo bem certinho: as teorias estão para a rede assim como os conceitos estão para os nós.


As metáforas – aqui sinônimas de analogia – têm disso: são ótimas para evocar um sentido conhecido para algo desconhecido, de modo que quem já conheceu uma rede de pesca pode começar a entender o que seja um “campo de coerência”. O problema é parar por aí, no já conhecido.


Paramos no conhecido o tempo todo: os homens estão para as mulheres, como os bois para as vacas, como os machos para as fêmeas; Deus está para os cristãos como Ifá para os iorubas, como o sol para não-sei-quem; eu estou para minha namorada assim como eu criança estava para minha mãe...


Quando as metáforas ou analogias comandam o pensamento, a consequência é a re-cognição e um fechamento para qualquer novidade. Assimilamos os outros povos ao meu, as outras deidades à minha: todos os outros povos “medidos pela régua” do povo a que pertenço; entendemos o que nos acontece agora ao modo do que aconteceu antes: todo o presente “medido pela régua” do passado. E por aí vai.


Abandonar a facilidade das metáforas é um primeiro passo para perceber qualquer diferença, qualquer devir[1]. O mundo se torna razoável se as relações já estão dadas e correspondentes, bastando substituir os termos mas sem analisar as relações. Razoável e incompreendido, já que entender é também desorganizar-se.


Trazendo para a Psicoterapia, essa moleza das metáforas está expressa não só quando interpretamos o paciente fazendo corresponder presente e passado, por exemplo, ou integrando a arquétipos e modelos; mas também quando as relações terapêuticas possíveis já estão dadas. Quando “o enredo é o mesmo, só mudam os atores”.


Não se trata de abolir as metáforas e analogias, as correspondências e as semelhanças. Seja na relação com aquilo que um paciente traz, seja na relação com o próprio paciente. Mas sim de abdicar do seu comando e predominância e talvez também de lembrar que só é semelhante aquilo que difere[2]. Aí estaremos em melhores condições de fazer uma análise singularizada e produzir com cada qual uma singularização.


[1] Cf. “Lembranças de um naturalista”, no texto “Devir-intenso, devir-animal, devir-imperceptível...”, no volume 4 de Mil Platôs. [2] Cf. “Identidade e Diferença: impertinências”, de Tomaz Tadeu Silva

Texto escrito entre 13 e 16 de abril de 2020

 
 
 

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